sexta-feira, 24 de junho de 2011

Mecanismos cibernéticos da fisiologia humana

No organismo humano, como nos demais seres vivos, os processos fisiológicos são controlados por mecanismos cibernéticos. 

Na definição de Rosalda Paim, cibernética é "a ciencia que trata da circulação de informações e dos mecanismos de comando, regulação e controle, no ser vivo, na máquina e na sociedade". 

No que tange ao organismo humano, destacamos o seguinte trecho do seu livro "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", segunda edição: 

 "Informações e Mecanismos Cibernéticos (Integração, Regulação e Controle): 

A maior parte dos sistemas de integração, regulação e controle do organismo funciona por mecanismos cibernéticos, os quais operam através de dispositivos de retroalimentação ou “feedback” negativo, isto é, efetuando reajustes mediante a entrada de novas informações no processo (“ïnput”), em função dos erros de saída (“output”), isto é, realizando a “correção por meio do próprio erro”. Para esta finalidade, o organismo possui inúmeros de dispositivos cibernéticos (de regulação por retroalimentação ou “feedback”)".

Entre os inúmeros  exemplos apresentados, destacamos o seguinte:

"Regulação e Controle da Glicemia por Mecanismo Cibernético  Hormonal - Respostas a Informações Mediadas por Concentrações de Substâncias: 
Por ocasião de sua ingestão, a glicose representa, ainda na cavidade bucal, uma carga de informação ou estímulo de natureza gustativa. Uma ingestão excessiva de glicídios ou mesmo de outros alimentos, provoca um aumento da glicemia. Esta elevação da concentração de glicose no sangue (hiperglicemia pós-prandial) e o próprio nível glicêmico corresponderá a codificação de uma mensagem, cujo canal de transmissão é o sangue, enquanto células pancreáticas, funcionando como receptores específicos, situados no pâncreas (células alfa das ilhotas de Langherans), captam e interpretam (decodificam) a mensagem, cuja resposta é a inibição da síntese e da secreção do seu hormônio - o glucagon.   
Concomitantemente, esta  mesma informação é também captada e decodificada por receptores, também específicos, localizados nas células beta das mesmas ilhotas de Langherans, cuja estimulação ensejará uma resposta, a qual será uma maior produção de outro hormônio, a insulina, que atuará nas membranas das células de todo o corpo, aumentando sua permeabilidade e, assim, favorecendo a absorção de glicose e o conseqüente incremento  de seu consumo como fonte de energia, decorrente do aumento do metabolismo celular, resultando na diminuição da glicemia. 
Ao mesmo tempo, na vigência de um teor de glicose acima dos limites normais (hiperglicemia), acrescido da elevação do nível de insulina (insulinemia) e da diminuição do nível de glucagon no sangue, estes fatores correspondem a uma carga de informações ao fígado que, em resposta, seqüestra a glicose do sangue e, mediante um processo de síntese (anabolismo), denominado glicogênese, a converte em glicogênio, um polímero da glicose, desta forma reduzindo a glicemia, até restabelecer o nível homeostático  (normoglicemia). 
O glicogênio e armazenado no próprio fígado, constituindo uma reserva, transformável em energia, de acordo com a necessidade. Por outro lado, o metabolismo basal, acrescido das atividades laborativas e da ausência prolongada da ingestão de alimentos, produz hipoglicemia.
Quando a concentração de glicose diminui a níveis abaixo do normal (hipoglicemia), esta situação, além de acionar o mecanismo da fome, funcionará, também como mensagem, para as células beta, cuja resposta  a este estímulo é a inibição da produção de insulina para “economizar” o consumo de glicose e buscar manter níveis homeostáticos da glicemia, ao mesmo tempo em que constitui mensagem para as células alfa, cuja resposta é o aumento da elaboração de glucagon. 
A insulina funciona como um mecanismo de gangorra em relação ao glucagon: quando um aumenta o outro diminui e vice-versa. 
Os níveis aumentados de glucagon veiculam mensagem que provoca como resposta, uma atividade analítica (catábolica) do fígado (sob a ação do glucagon), isto é, a “quebra” das moléculas de glicogênio hepático, isto é, o desdobramento (despolimerização) ou conversão do glicogênio em moléculas livres de glicose (glicogenólise), também, com a finalidade de manter níveis adequados de glicemia para atender às necessidades do organismo, as quais são conduzidas pelo sangue (transporte), até à intimidade celular (aporte celular), onde sob a ação do oxigênio e de enzimas específicas, é queimado (oxidado), constituindo o fenômeno de respiração celular (catabolismo), produzindo energia e, tendo como subprodutos, água e dióxido de carbono (CO2). 
Estes efeitos homeostáticos são resultantes de um sistema informacional do organismo (trocas de informações), mediado por matéria (concentração de substâncias) que aciona um mecanismo cibernético de retroação (“feedback” negativo), cujos estímulos aos órgãos receptores são mediados por concentrações de substâncias, provocando uma resposta, expressa por “trocas de matéria”, como exemplificado acima (caso do pâncreas), ou mesmo, por “trocas de matéria e energia”.



Rosalda Paim apresenta, no mesmo livro, variados exemplos, como este, de funcionamento cibernético do organismo humano, instaurando a "fisiologia cibernética" (mesmo porque a cibernética, na verdade, nasceu da fisiologia) e introduziu o mecanismo de "feedback" e, portanto, a cibernética na enfermagem, criando a "enfermagem cibernética", ao designar a sua teoria como "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", entre cujos Princípios, inclui o:

"Princípio da Enfermagem Cibernética

                  Em um universo em continuo e permanente processo de transformações, a ciência de Enfermagem, o sistema de Enfermagem e o Processo Assistencial de Enfermagem devem adotar e acionar o dispositivo Cibernético de "retroação" (feedback) para se reajustar ou readaptar constantemente aos avanços científicos, tecnológicos e sociais de cada época, para atender às necessidades  de  cada paciente (família, comunidade, sociedade),  em cada instante considerado.

     Corolário:
    
     - O dispositivo Cibernético de "retroação" ou “feedback” deve ser usado permanentemente em relação à Assistência de Enfermagem, à Educação em Enfermagem, à Administração de Enfermagem ou à Pesquisa de Enfermagem, às Associações de Enfermagem ou a outra qualquer atividade da profissão, ao perfil, às funções e atribuições do Enfermeiro, do Técnico ou do Auxiliar de Enfermagem.

      - O modelo de processo de enfermagem, apresentado no mesmo livro, adota tal mecanismo de retroação (feedback), com a finalidade de introduzir reajustes ante processo, in-processo e pós-processo, em razão das diferenças entre o esperado resultado do desempenho e aquele realmente atingido, ou seja, em função da análise dos objetivos e da qualidade do produto final do sistema.
     A qualidade do produto final do sistema de enfermagem - a assistência de enfermagem - deve atender,  simultaneamente, às expectativas do consumidor desse serviço (clientela), de sua família do sistema de enfermagem, do  sistema de saúde, da comunidade,  do sistema social e do próprio enfermeiro.
     O modelo de sistema de enfermagem, aqui proposto, tem como paradigma os sistemas auto-organizadores e auto-reguladores (sistemas cibernéticos), como os organismos vivos e os ecossistemas naturais, interagindo entre si e processando o intercâmbio de matéria, energia e informações.
      Tal como ocorre em um subsistema de controle de produção de uma empresa, em que seu processo administrativo é controlado pelo cérebro humano, um sistema de enfermagem, ao adotar um modelo cibernético de processo, adquire a semelhança interna geral com uma criatura viva, completada pelos seus reflexos (estímulos e respostas que surgem nele), cujo cérebro e representado pelo próprio enfermeiro.
      Na Enfermagem Cibernética, o processo de enfermagem (dinâmica do sistema), coerente com o modelo proposto, o "Modelo Cibernético de Processo de Enfermagem", tem  como "cérebro" o próprio enfermeiro (mecanismo sensor, de interação, de respostas e reajustes) o que torna, assim, este processo  "automatizado".    
     Um processo assistencial de enfermagem, para ser Cibernético, teleológico, deve conter uma definição clara e precisa dos seus objetivos, além de possuir um sistema de avaliação e um dispositivo de  retroação (reajuste), capaz de permitir, constantemente, correções necessários, isto é, o controle permanente do sistema.
     A dinâmica e funcionamento (“fisiologia”) do Sistema de Enfermagem, no sentido da consecução do seu "telos", constituem o respectivo processo. 
    Portanto, a dinâmica e interrelações entre os vários procedimentos necessários à prestação de assistência de enfermagem às pessoas (família, comunidade) constituem o processo de enfermagem.
     Qualquer sistema necessita de processadores e responsáveis pela sua higidez e funcionamento.
     Para o processamento dos cuidados de enfermagem, um tipo particular de assistência prestada ao ser humano, exige-se um profissional altamente diferenciado e qualificado - o enfermeiro.

     O enfermeiro é membro integrante da equipe de agentes do aparelho prestador de assistência de saúde ao homem, à família, à comunidade  e à sociedade.
     
"ENFERMEIRO" é o profissional capaz de satisfazer os requisitos estabelecidos pelo sistema legal do respectivo país para o uso do título e exercício da profissão, de realizar a consulta (diagnóstico e prescrições de enfermagem), executar (cuidar), coordenar e controlar (mediante avaliação e reajustes) o processo de enfermagem e encaminhar o homem (família), para receber assistência de privativas de outros profissionais ou de outras instituições, atuando no sentido de promover ou concorrer para a manutenção ou restauração da homeostasia do "sistema humano", de seus metassistemas (família, comunidade, sociedade) e dos respectivos sistemas ambientais, bem como do próprio sistema de enfermagem, do sistema de saúde e do sistema social em que estes se inserem.
  
      A esta altura, precisamos e já podemos definir a enfermagem: 

   ENFERMAGEM é a ciência, a arte e uma prática social que trata do diagnóstico das necessidades de saúde, do planejamento, execução (cuidar), coordenação e controle (avaliação e reajuste) do processo assistencial de enfermagem, atuando sempre e, simultaneamente, sobre o ser humano (família, comunidade, sociedade), abrangendo o ambiente, com a finalidade de promover, preservar e restaurar a saúde.
    
Face ao sistema discursivo da "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", poderíamos traduzir:
ENFERMAGEM é a ciência, a arte e uma prática social que trata do diagnóstico das necessidades de saúde, do planejamento, coordenação, execução (cuidados) e controle (avaliação e reajuste) do processo de enfermagem ao atuar sempre e, simultaneamente, sobre o sistema humano (pessoa sadia ou doente) e seus metassisstemas (família, comunidade, sociedade) e o entorno, com a finalidade de promover, preservar e restaurar a otimização da homeostasia do processo de intercâmbio de matéria, energia e informações entre o sistema em causa e o seu ecossistema."

(Edson Nogueira Paim escreveu) 

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